No domingo à noite, quando soube da morte de Osama Bin Laden não saí enlouquecida pela rua enrolada numa bandeira dos Estados Unidos para comemorar com meus vizinhos. Nem sei se os vizinhos estavam na rua comemorando. A rua estava calma e silenciosa; assim continuou.
Segunda-feira não precisei ir no campus e como boa preguiçosa que sou, aproveitei para ficar em casa. Portanto, ao vivo, também não vi nenhuma manifestação sobre o acontecido. Rodrigo me contou que, nos momentos em que ele esteve fora da biblioteca, também não viu nada diferente do normal.
Mas durante o dia fiz questão de acompanhar pela TV local - até onde pude suportar - todas as notícias sobre a "tão esperada captura do inimigo público número 1" dos estadunidenses.
Vi imagens de pessoas nas ruas comemorando de um jeito semelhante ao carnaval, reveillon, Copa do Mundo, ou no caso, Super Bowl. Vi Obama discursando e um assessor careca da Casa Branca respondendo às perguntas dos jornalistas; vi um âncora grisalho e famoso da CNN (o mesmo que há pouco estava em Londres cobrindo o casamento real) entrevistando várias pessoas no meio das obras onde ficavam os dois prédios do World Trade Center.
Vi um programa feminino, tipo o Saia-Justa, com atrizes e comediantes sentadas ao redor de uma mesa falando "como os filhos delas agora poderiam finalmente sentir alívio e orgulho do país que VINGOU as vítimas e suas famílias do 11 de setembro". E por fim vi Oprah reprisando um episódio especial do seu show com o casal presidencial.
E assustada busquei, para relaxar, seriados leves como Criminal Minds, CSI e Law and Order afinal, ali, pelo menos tudo fica na ficção.
Acho absurdo que um assassinato seja comemorado; que seja exaltada essa noção de vingança e que tudo é justificável para derrotar os inimigos. Porque esse assassinato foi uma vingança. E, se formos pensar em números, comparando quantos inocentes morreram no 11 de setembro, e quantos morrem até hoje no Oriente Médio nas mãos dos soldados e suas bandeiras tricolores e estreladas, fica fácil definir de que lado vem a maior atrocidade.
Mas tudo sempre foi justificado: prender, torturar, invadir, perseguir e assassinar. E agora, mais do que legitimado. Guantánamo ainda vai continuar ativa? As tropas continuarão no Afeganistão para que os soldadinhos dêem a cara a tapa e sejam torturados e mortos pelas famílias que tiveram pais, mães, filhos e amigos assassinados por suas mãos? Porque eles também deveriam ter esse direito.
Isso me deixa assustada. O direito de matar sem julgar. De tomar sem pedir. De bater sem ter porquê.
Obama agora garantiu sua reeleição, é o que todos dizem. Mas o mundo não se tornou um lugar melhor porque, finalmente, Bin Laden foi encontrado.
Eu disse que não vi as tais manifestações repugnantes que citei; mas um aluno da UCDavis viu e publicou um belo texto sobre isso no jornal na Universidade. Para ler, clique aqui.
5 comentários:
é exatamente a minha mesma impressão, papis
Foi assustador mesmo ver a galera comemorando, pelo menos na rua aí onde vc tá não rolou nada, mas pela tv também deve ter sido bizarro.
Estamos juntas mesmo, hein? Não preciso nem dizer que concordo...
:)
É incrível a demagogia do discurso norte-americano. Mas, mais incrível ainda é a reprodução sem críticas da imprensa Brasileira aos fatos. a única abordagem que me chamou a atenção foi a do SBT, que fez uma retrospectiva sobre a interferência dos EUA no Oriente Médio - armando milícias afeganistãs quando da guerra contra os Soviéticos - até o momento em que Osama se torna seu inimigo. Arrematada por uma crítica do comentarista do Telejornal. Deu até uma esperançazinha nessa "jornalista" tão descrente...
É incrível a demagogia do discurso norte-americano. Mas, mais incrível ainda é a reprodução sem críticas da imprensa Brasileira aos fatos. a única abordagem que me chamou a atenção foi a do Jornal do SBT, que fez uma retrospectiva sobre a interferência dos EUA no Oriente Médio - armando milícias afeganistãs quando da guerra contra os Soviéticos - até o momento em que Osama se torna seu inimigo. Arrematada por uma crítica do comentarista do Telejornal. Deu até uma esperançazinha nessa "jornalista" tão descrente...
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